Um território virgem, dentro Parque Nacional (Parna) Montanhas do Tumucumaque, localizado entre os Estados do Amapá e do Pará. Para revelá-lo, uma expedição e dois fotógrafos com suas máquinas em punho: Leonardo Milano e Rubens Matsushita. O resultado só poderia dar em beleza e espanto.
Os dois profissionais, ambos de Brasília (DF), trabalham no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), embora Matsushita seja colaborador. A ideia da expedição, em terra desconhecida pelos homens, teve como objetivo estimular a atividade científica no local. As imagens foram feitas durante uma viagem de 11 dias, encerrada no último dia 16.
Milano e Matsushita são os responsáveis por documentar a aventura que mapeou um trecho inexplorado do Rio Culari, afluente do Rio Jari. Imersos na maior unidade de conservação (UC) federal do País, com quase 4 milhões de hectares, os fotógrafos enfrentaram os perigos da selva em busca dos registros mais íntimos do Tumucumaque.
“Ao todo, ficamos 11 dias na expedição. Destes, seis foram usados para subir o Rio Jari e chegar à Cachoeira de Macaquara. Acompanhávamos o geógrafo da equipe para irmos além do limite já alcançado por alguém dentro do parque. Percorríamos cerca de 70 quilômetros a pé por dia. O cansaço e o perigo pareciam não ter fim”, diz Matsushita.
Milano concorda com o colega e afirma que a principal dificuldade encontrada foi o acesso aos locais por meio do rio. Além disso, os fotógrafos enfrentaram insetos, umidade, chuva, calor ao longo do dia e frio durante a noite. “Sem contar que a gente dormia em redes, cada noite em um lugar diferente. A correnteza também representava grande risco. Em certos trechos de corredeira todos tinham que descer do barco e arrastá-lo através de cordas”, conta.
A expedição foi dividida em duas etapas. A primeira contou com embarcações motorizadas para percorrer o Rio Jari até a montante por aproximadamente 400 quilômetros. Trechos difíceis foram navegados, como o complexo das corredeiras Urucupatá-Mucurú e o da Cachoeira do Macaquara.
“Durante a ida, passamos por um grande um susto. Nosso barco transportava 12 pessoas quando o motor quebrou. Substituímos por um motor reserva que tinha uma potência menor. O motor não deu conta de subir uma das corredeiras e o barco precisava descer. Nesse momento, a embarcação começou a encher de água e estava prestes a afundar. Graças ao piloteiro, o barco conseguiu voltar ao rumo”, conta Matsushita.
A partir da foz do Rio Culari, a equipe se dividiu e apenas cinco pessoas seguiram em dois caiaques a remo por mais 120 quilômetros até as cabeceiras do rio. Após desmontarem as embarcações, o quinteto atravessou a fronteira a pé e retomou o deslocamento fluvial pelo igarapé Tampak, um dos formadores do Rio Maroni. Já em terras franco-guianenses, atingiram, finalmente, a localidade de Maripassoula.
“Foi espetacular estar em um lugar como aquele, nunca antes divulgado a partir de fotos. É um lugar inóspito e, por isso, muito conservado. A natureza era exuberante a ponto de tirar o fôlego. Ao todo, tirei umas 6,5 mil fotos. A Cachoeira do Macaquara me rendeu uma dos melhores imagens da expedição. ‘Uma’ das melhores, já que não sei dizer qual delas é minha preferida”, conta Milano.
Durante a volta, os fotógrafos contam que chegaram a pensar que não conseguiriam sair vivos para divulgar o lugar desconhecido. “Dois episódios da volta ocorreram em sequência e foram muito assustadores. Primeiro, um dos barcos, que tem três toneladas, quase tombou sobre as pessoas. Em seguida, a corda do barco que transportava o Léo arrebentou. A embarcação começou a se perder no rio. Por sorte, o piloteiro saltou para dentro do barco e controlou a situação”, conta Matsushita.
Apesar das dificuldades encontradas, ambos afirmam que retornariam ao local para repetir a experiência. “Valeu muito a pena. Faria tudo de novo, em uma nova expedição, com certeza. Aliás, já abrimos uma discussão sobre isso”, finaliza Milano. Veja, no Face do ICMBio, as demais imagens dessa aventura.
* Com informações do ICMBio